Jogos de azar e apostas esportivas afetam varejo e reservas
Jogos de azar e apostas esportivas afetam varejo brasileiro e reservas financeiras das famílias. É o que revela estudo do Santander Brasil encaminhado ao Grana News, o site de notícias do aplicativo Grana Capital.
Leia o relatório do banco assinado pelos analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, na sequência do texto após a imagem ilustrativa abaixo:
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Os jogos de azar e apostas esportivas on-line, estão remodelando os hábitos de consumo dos consumidores brasileiros.
Nosso estudo, analisando dados de 2013-2023 e calculando as vendas no varejo ampliado do IBGE como percentual da Renda Nacional Descartável Domiciliar (RNDBF) do Banco Central revela que a participação das vendas no varejo na renda familiar caiu de um pico de 63% em 2021 para 57% em 2023.
Simultaneamente, as atividades de jogo registaram um aumento significativo, aumentando de 0,8% do rendimento familiar em 2018 para uma estimativa de 1,9-2,7% em 2023.
Embora a nossa abordagem simplista a análise não inclui outras fontes emergentes de novas atividades, como o comércio transfronteiriço e criptomoedas, a mudança parece estar afetando os segmentos de varejo tradicionais, com categorias como vestuário e calçados e eletrônicos e móveis registrando as maiores quedas na participação da carteira nos anos de nossa análise.
À medida que o Brasil avança em direção à legalização de diversas formas de jogos de azar, os varejistas enfrentam a concorrência não apenas dos pares, mas de um cenário de consumo em evolução que parece prometer gratificação instantânea e recompensas potenciais com esforço mínimo.
À luz da crescente clareza regulatória e legalização das apostas esportivas e, em breve, dos jogos de azar no Brasil, esta semana analisamos como essas novas atividades em expansão estão conquistando uma parcela cada vez maior da carteira da renda familiar brasileira.
Nossas descobertas sugerem que os varejistas tradicionais não estão apenas competindo entre si pelo dinheiro suado dos consumidores, mas também competindo com um cenário em evolução de hábitos de consumo que prometem gratificação instantânea e o fascínio da riqueza sem esforço.
Para tentar quantificar essa mudança no comportamento do consumidor, analisamos os dados nominais das Vendas no Varejo do IBGE e da Renda Nacional Descartável Domiciliar do Banco Central de 2013-2023. A nossa metodologia centrou-se no cálculo da participação da carteira das atividades de varejo no rendimento disponível.
Especificamente, calculamos o racional entre o total nominal das vendas a varejo ampliadas da Pesquisa Anual do Comércio do Governo e o rendimento nacional disponível restrito do agregado familiar (Renda Nacional Disponível Bruta Restrita conforme cálculo do Banco Central).
Esta abordagem nos permite acompanhar como as atividades comerciais tradicionais evoluíram em relação ao poder de compra geral dos brasileiros, fornecendo informações sobre os potenciais efeitos de deslocamento causados por setores emergentes como o comércio legalizado da jogatina.
As vendas no varejo ampliado no Brasil representaram cerca de 57% da renda das famílias em 2023, abaixo do pico de 63% em 2021 e aproximando-se da média de 10 anos de 56% para 2013-2023.
Uma possível interpretação deste gráfico é que o fraco crescimento das vendas no varejo visto ao longo nos últimos dois anos, apesar do forte crescimento do rendimento, poderá ser impulsionado por alguma reversão à média na sequência das mudanças forçadas no comportamento do consumidor imposta pela pandemia em 2020-21 e pelos estímulos e crescimento do crédito que se seguiram imediatamente a seguir.
Outro ângulo é considerar amplo o declínio da “carteira” das vendas a varejo pode ser atribuído ao surgimento de novas atividades e hábitos de consumo que simplesmente não existiam ou eram demasiado incipientes há dois ou cinco anos, como os jogos de azar online, o comércio eletrónico transfronteiriço e as criptomoedas.
Após a aprovação presidencial em janeiro 2024 da lei que regulamenta as apostas esportivas online no Brasil e a aprovação na semana passada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado de um projeto de lei (PL 2.234/2022, ainda pendente de aprovação no Congresso) que propõe a legalização de cassinos, casas de bingo e jogos de azar, ampliamos para avaliar como evoluiu a participação desta atividade em comparação com outros segmentos de varejo.
Os dados reais relacionados às atividades de jogos de azar no Brasil são escassos, por isso baseamos nossas suposições em estimativas do Congresso e em artigos que citam outros fontes como empresas de apostas online e Banco Central.
Estudo do Senado estima que os brasileiros gastam cerca de R$ 50 bilhões anualmente com jogos de azar, sendo que apenas R$ 23 bilhões em 2023 vieram da via legal, por meio de loterias federais.
Este valor não inclui apostas desportivas online, que, segundo algumas fontes totalizaram mais de R$ 100 bilhões em 2023, enquanto outras fontes usam dados do Banco Central para apontar R$ 58 bilhões sendo enviados para sites internacionais de apostas esportivas.
Assim, para 2023, estimamos que os brasileiros gastaram entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões em atividades de jogos de azar (loterias federais + atividades informais + apostas desportivas online).
Assumindo o limite inferior dessa faixa em R$ 100 bilhões, isso representa um grande salto em relação aos R$ 30 bilhões que estimamos ter sido gasto em 2018 (considera apenas loterias federais e a estimativa de que o jogo informal tem aproximadamente o mesmo tamanho do formal jogatina).
De acordo com as nossas estimativas, as atividades de jogo representaram 1,9% do rendimento das famílias em 2023 (2,7% se considerarmos o segmento topo de gama das apostas desportivas), acima dos 0,8% em 2018.
Este aumento na participação na carteira não foi apenas maior do que o das vendas no varejo de alimentos e bebidas, que aumentaram para 18,8% em 2023 versus 17% em 2018.
Por outro lado, as categorias que tiveram a maior participação na redução da carteira foram vestuário e calçados (queda de 0,70 ponto percentual para 3,0%) e eletroeletrônicos e móveis (diminuindo 0,40 ponto percentual para 3,1%).
Não pensamos que a participação decrescente de alguns segmentos seja completamente atribuível ao aumento das atividades de jogo, embora provavelmente esteja conquistando parte da carteira.
Uma pesquisa recente realizada pela SBVC entrevistou usuários ativos de apostas esportivas on-line sobre quais segmentos eles haviam deixado de fazer compras para gastar em apostas, com vestuário (23%), itens de supermercado (19%) e viagens (19%) representando a maior parcela.
Reconhecemos que a nossa metodologia é uma grande simplificação e não inclui muitos outros impactos (como o surgimento do comércio transfronteiriço) que afetam a mudança nos hábitos de consumo dos consumidores, mas poderia indicar que, de fato, as atividades de jogo estão a tornar-se uma maior fonte de concorrência para os varejista, à medida que estes competem pela carteira dos consumidores.
Fontes de conteúdo: analistas do Santander Brasil: Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo
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