Entenda a queda de Bradesco (BBDC3/BBDC4)
Entenda a queda de Bradesco após a divulgação do balanço do 2º trimestre de 2023. As ações do banco figuraram entre as maiores baixas do Ibovespa no pregão de 4 de agosto de 2023.
O Bradesco registrou lucro líquido de R$ 4,5 bilhões no período, queda de 35,8% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
O banco pagou R$ 2,9 bilhões em juros sobre capital próprio (JCP) no 2º trimestre de 2023, o equivalente a um payout de 67% no trimestre.
Leia abaixo relatório da Genial Investimentos, assinado pelo head de research e finanças Eduardo Nishio e os analistas do setor financeiro Eyzo Lima, Wagner Biondo e Lorenzo Giglioli, para entender os resultados do 2º trimestre de 2023, que impactaram nas ações do banco na Bolsa.
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Relatório da Genial sobre Bradesco (BBDC3/BBDC4)
O Bradesco apresentou um lucro líquido de R$ 4,5 bilhões, em linha com nossas estimativas, mas com tendências negativas que levaram o banco a mudar bastante seu guidance de 2023, publicado em janeiro desse ano. A rentabilidade (ROE), como esperávamos, veio fraca em 11,5%.
O trimestre foi marcado por resultados fracos em algumas linhas operacionais, com a carteira de crédito contraindo na comparação trimestral e anual, a receita líquida de juros com queda trimestral e fraca expansão anual, além de uma provisão para crédito ainda bem elevada.
Na nossa interpretação, o novo guidance reflete uma dificuldade do Bradesco em alcançar uma rápida recuperação de rentabilidade do que inicialmente projetávamos, com o ROE de 18% provavelmente somente em 2025.
O destaque positivo que salvou o trimestre veio da vertical de seguros que apresentou um lucro de R$ 2,4b, uma robusta expansão trimestral e anual com ROE de 24,5% e revisão positiva no guidance. Ademais, a margem com mercado (tesouraria) melhorou substancialmente, mas continuou reportando um resultado negativo. Com a queda da Selic em agosto, esperamos que a margem com o mercado deve ficar positivo nos próximos trimestres.
Dessa forma, nesse momento do ciclo, reiteramos preço alvo de R$ 17 por ação. Historicamente, o banco está negociando a múltiplos interessantes de 9,0x P/L 2023E, 6,8x P/L 2024E e 1,1x P/VP, porém preferimos bancos com uma dinâmica mais construtiva de receita, qualidade de ativos e rentabilidade que negociem com múltiplos baixos.
O banco revisou várias linhas do guidance com um viés de piora na nossa visão. As únicas linhas que tiveram alguma sinalização de melhora foram a de Seguros e uma marginal diminuição em despesas operacionais. Seguros apresentou uma forte revisão de crescimento saindo de 6-10% para 21-25% de expansão anual.
Do lado negativo, houve uma forte redução nas projeções de crescimento da carteira de crédito e margem financeira. Até nas linhas que foram reiteradas (serviços e PDD), a sinalização é que fiquem na parte mais negativa da faixa. Por fim, o soft guidance da taxa efetiva de imposto melhorou de 16%-20% para 10%-14%.
Na nossa simulação, acreditamos que a composição mais provável do novo guidance seja formada majoritariamente por indicadores próximo ao meio do guidance, com exceção das linhas de serviços e PDD. Na receita de serviços, o Bradesco deve ficar na faixa mais baixa do guidance. Já em provisões (PDD), o resultado do 2T23 mostra que o banco deve ficar no patamar mais elevado, no topo do guidance.
Com isso, o lucro para o ano deve ficar abaixo de R$ 20b, com uma queda provavelmente superior a 4% a/a, além de um ROE fraco frente ao histórico da empresa em um nível próximo a 12-13%.
Talvez maior mensagem do 2T23 seja o processo de recuperação de rentabilidade possa ser mais gradual que antes esperávamos, com a carteira de crédito voltando a acelerar de forma lenta conforme os níveis de inadimplência deem sinais de alívio e a margem com mercado comece a contribuir positivamente com a queda da taxa Selic.
A margem financeira (NII) foi de R$ 16,6b (-0,6% t/t e +1,2% a/a). O resultado veio abaixo das nossas expectativas, já conservadoras, em 3,1%. A queda t/t foi consequência da margem com clientes mais fraca (-1,8% t/t e -1,7% a/a) em vista das políticas mais restritivas de crédito, que levaram a contração na taxa média da carteira (spread) em 0,2pp t/t.
Já na margem com o mercado, vemos melhora em função do melhor resultado de ALM e de ganhos em operações de tesouraria, ficando em -R$ 96m quase zerando as perdas vs. -R$ 312m no 1T23.
As provisões para devedores duvidosos (PDD) vieram 8,5% acima das nossas expectativas em um total de R$ 10,3b, uma forte expansão de 8,4% t/t e 94,2% a/a.
A linha de PDD continua pressionada pelas condições do cenário de endividamento, principalmente em micro e pequenas empresas e pessoas físicas, concentrada em safras mais antigas.
A inadimplência (E-H), continua em alta, chegando a 6,5% (+0,7 pp t/t e +2,6 pp a/a), caso expurgássemos o impacto de Americanas, a inadimplência seria levemente menor. A inadimplência (acima de 90d) subiu 0,1 pp para 5,9%. Na quebra por segmentos, a inadimplência de Pessoa Física (PF) conseguiu leve arrefecimento de 6,8% para 6,7%, mas ainda em altos patamares.
A inadimplência de Grandes Empresas segue sendo pressionada, aumentando em 0,6 pp t/t para 1,9%, praticamente por conta do impacto de Americanas. Sem esse efeito, a inadimplência seria de 0,7% (-0,6 pp t/t e +0,6 pp a/a). Estimamos que aproximadamente 60% do crédito de Americanas tenha entrado em atraso, assim, esperamos novas altas para a inadimplência de Grandes Empresas ao longo do ano, refletindo os 40% restantes.
O índice de cobertura (E-H) deteriorou substancialmente, caindo -13,1pp t/t e -48,1pp a/a para apenas 146,7%, impactado em parte pela realocação da provisão de Americanas que saiu de complementar para específica.
Do lado da qualidade de ativos, as novas safras de clientes aparentam possuir uma melhor qualidade de crédito, com 95,5% dos clientes sendo classificados no rating AA-C.
Apesar das novas safras estarem vindo melhores, a composição da carteira total mostra uma piora nos ratings de melhor qualidade (AA-C) com queda de -0,2pp t/t e -1,5pp a/a, ficando em 88,5%.
A linha de seguros foi o destaque positivo do trimestre, apresentando um resultado operacional de R$ 4,8b com uma robusta expansão de 31,9% t/t e 30,6% a/a.
A vertical apresentou um bom desempenho em praticamente todos os segmentos, influenciado pelo aumento do faturamento, melhora da sinistralidade, comercialização e performance positiva do resultado financeiro.
O lucro da unidade de seguros foi de R$ 2,37 bilhões, crescimento de 34% t/t e 31% a/a. Com uma rentabilidade (ROE) robusta de 24,5%, uma expansão de 6,3pp t/t e 3,6pp a/a, o lucro da seguradora supera mais uma vez a do banco, ficando em 53% do lucro do conglomerado.
As receitas de tarifas vieram fracas, ficando estável t/t e com queda de 2,5% a/a. O impacto negativo veio de uma redução das receitas com conta-corrente, administração de consórcios, operações de crédito e outros, enquanto as rendas de cartão e assessoria financeira (underwriting) apresentaram expansão na comparação trimestral e anual.
As despesas totais aumentaram +2,3% t/t e +5,6% a/a. A linha de despesas de pessoal expandiu em +2,1% t/t e +7,6% a/a, reflexo do acordo coletivo realizado no final de 2022, além de maiores gastos com processos trabalhistas e custos de rescisões, enquanto a variação trimestral foi mais impactada pela sazonalidade de 1T.
Houve também impacto dos custos relacionados aos investimentos em tecnologia, além de maiores despesas com serviços de terceiros e sistema financeiro.
A linha de outras despesas também sofreu maior impacto pelo movimento das contingências, principalmente de processos cíveis e fiscais realizadas no 1T23.
Apesar da redução relevante do número de agências e pontos de atendimento, os custos seguem crescendo acima da expansão das receitas com serviços e tarifas. O número de agências caiu -2,4% t/t e -4,8% a/a para 2.787 agências no país.
A alíquota de imposto segue baixa em 8% (-0,2pp t/t e +23,3pp a/a), ajudando o resultado final do banco. Além de um resultado operacional ainda fraco, o banco divulgou distribuição de JCP bruto em R$ 2,9b (payout em 67%), contribuindo para a menor alíquota.
O soft guidance da alíquota de imposto cai de 16-20% para 10-14% para 2023.
(*) Fontes de conteúdo: CVM, B3, Bradesco RI e Genial Investimentos

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