B3: Investir para viver | Por Ricardo Schweitzer

Artigo de Ricardo Schweitzer

Muito provavelmente há melhores oportunidades de se encontrar assimetrias para além do primeiro pelotão. Por Ricardo Schweitzer*

Depois de muitíssimos anos, neste domingo eu assisti a uma corrida de Fórmula 1. 

Como muitos brasileiros, meu interesse pelo automobilismo caiu drasticamente depois da morte do Senna (evento que, tal qual o ataque às Torres Gêmeas, quase todo mundo lembra onde estava quando ocorreu) e os resultados questionáveis de Rubens Barrichello que rendem memes até hoje.

E também, tal qual muita gente, meu regresso à condição de espectador da mais consagrada modalidade de corrida é produto de F1: Drive to Survive, série da Netflix que traz muito do drama que ultrapassa as pistas.

É uma glória para mim nutrir interesse por algo do gênero, pois isso rende assunto para conversa. E foi numa dessas rodas de conversa que, vindo o tópico, amigos declararam sua torcida pelas de sempre: Mercedes, Red Bull, Ferrari… 

…e eu me dei conta que estou muito mais interessado em ver como a Haas vai se sair. Se a McLaren conseguirá mais pontos no campeonato de construtores esse ano (e se o Daniel Ricciardo vai conseguir, finalmente, entregar…); se Valtteri Bottas vai conseguir tirar o máximo do carro da Alfa Romeo… 

Enfim: meu interesse é muito maior no pelotão intermediário do que na turma que se alterna na pole position, porque ali eu acredito que há espaço para coisas muito mais interessantes acontecerem – o imponderável exerce um papel maior. E, como há menos gente interessada, há maiores assimetrias a serem capturadas.

Impossível não estabelecer um paralelo com o mercado de renda variável: de um lado, há as empresas queridinhas de sempre das quais se espera muito e que, via de regra, entregam muito. Talvez Hamilton seja uma WEG e Verstappen seja uma Raia Drogasil… será?

O grande problema de grandes expectativas é que, quando frustradas, geram grandes decepções. O fato de os dois carros da Red Bull não terem conseguido completar o GP do Bahrein, que inaugurou a temporada 2022 no último domingo, já gera enormes especulações sobre a competitividade da equipe de agora em diante. Se a RBR fosse uma ação, com certeza abriria com um belo gap de baixa nesta segunda-feira.

É sempre útil lembrar que McLaren e Williams já dominaram a F1. A primeira tenta se reconstruir. Já a segunda passou por um turnaround radical e as apostas sobre seu futuro são díspares. A bolsa está cheia de casos assim – com a certeza de que deixarei nomes de fora, cito Springs, Oi, Taurus… 

Está no meu DNA achar o pelotão intermediário mais interessante. Mas, da mesma forma que não é sábio apostar todas as suas fichas no renascimento da Williams ou na Haas finalmente entrando nos eixos, também não é sensato fazer grandes apostas em casos de turnaround complicados. 

Por outro lado, as Mercedes, Red Bulls e Ferraris da bolsa oferecem uma falsa sensação de segurança: paga-se muito caro para apostar nelas e, ao menor deslize, os resultados são desastrosos. Pense por um instante como devem estar Verstappen e Pérez nesta segunda, ainda digerindo o fato de terem ficado no caminho por causa de seus carros – deve ser semelhante ao sentimento de investidores de Banco Inter, Méliuz e tantas outras que bombaram num passado recente e, agora, amargam dolorosas perdas.

É imprudente esperar resultados sempre melhores para sempre. Fernando Alonso e Sebastian Vettel estão no grid para nos lembrar disso… 

Quando impera o sentimento de que nada pode dar errado é justamente quando há o maior potencial de perda se, porventura, algo der errado – e às vezes dá… 

E quem seriam as Haas, Alpine e Alpha Tauri da bolsa hoje em dia? É em busca dessa resposta que um investidor diligente deveria se ocupar a maior parte do tempo. Talvez essas empresas não sejam as futuras líderes dos seus setores, mas têm condições de galgar, num futuro próximo, posições melhores do que as que têm hoje – e isto ainda não está corretamente precificado.

Curiosamente, a maioria dos investidores se concentra nos dois extremos da distribuição: ou apostam forte em Mercedes, Ferrari e RBR – e tomam na cabeça quando o carro de uma delas dá xabu… – ou dão all in em Williams, McLaren e apostam tudo que o próximo campeão será o Guanyu Zhou.

Será que efetivamente faz sentido? Ou será que energia de torcida está sendo colocada no lugar errado?

P.S.: Não podia faltar no artigo uma menção ao Nikita Mazepin – na bolsa ele seria aquela empresa que não entrega resultado nenhum e, um belo dia, a B3 anuncia a sua súbita deslistagem. Curiosamente, a audiência bursátil para esses esqueletos de empresa é maior do que a do automobilista russo – talvez, na F1, as torcidas sejam mais sensatas.


*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. 

Twitter: @_rschweitzer, Instagram: @ricardoschweitzer

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