Por que a situação de PETR é insustentável | Por Ricardo Schweitzer

Artigo de Ricardo Schweitzer

A política de preços da Petrobras, como executada hoje, está com os dias contados. Será sepultada. Se não pelo atual governo, pelo próximo – seja ele qual for. Por Ricardo Schweitzer*

Se, ao ler o título desse artigo, você já começou a espumar de raiva e me chamar de comunista, faça uma pausa, respire fundo, vá pegar um chazinho… definitivamente não se trata disso.

Estava, dias atrás, conversando com um gestor e amigo. E, em meio às nossas discussões de teses de investimento, ele disparou: eu jamais vou dizer isso em público e se você disser que eu disse, eu nego; mas essa política de preços da Petrobras é simplesmente insustentável.

Achei a forma como ele colocou sua posição um tanto curiosa. Muito embora os precursores da cultura do cancelamento sejam tipicamente “de esquerda”, parece que nos vemos atualmente tolhidos de expressar determinados pontos de vista por qualquer dos lados – e justamente aí a razão de ser do disclaimer com o qual abri esse artigo.

O racional de meu interlocutor é muito simples: Petro não é uma empresa privada. Seu compromisso não é – ou não pode ser – unicamente com seus acionistas. A partir do momento em que ela é uma empresa de economia mista, os interesses nacionais, os impactos na sociedade de suas decisões empresariais, também têm que ser levados em conta no seu processo decisório.

(Paradoxalmente, essa mesma retórica de ponderar impactos sociais das decisões empresariais é amplamente aplaudida em empresas 100% privadas sob o carimbo “ESG”, mas provoca calafrios em muitos quando tem uma estatal no meio…)

Pois eu lhes digo: não importa sua concordância ou não. Não importa minha concordância ou não – eu próprio não cheguei, ainda, a uma conclusão. A insustentabilidade da política de preços não tem nada a ver com a defesa desse ou daquele conjunto de valores.

Tem a ver com política. Tem a ver com como nosso sistema político funciona.

Dias atrás descobri que o atual preço do óleo diesel está 53% defasado em relação ao praticado no mercado internacional. O da gasolina, 35%.

A manutenção da política de preços atual implica(ria), portanto, em substanciais reajustes. E, para além do custo econômico que isto imporia ao País, o custo político desses reajustes é alto demais para qualquer governo, independentemente de sua cor ideológica.

Nenhuma população sofreria, no bolso, impactos dessa magnitude conformada com a ideia de que o presidente não tem nada com isso; a culpa é do cenário internacional; precisamos preservar a política de preços da Petrobras

O atual ocupante do Alvorada sabe disso – e ameaça intervir porque sabe que, mantido tudo igual, será ele quem pagará o pato nas urnas. 

Seus opositores também o sabem e, diante do dilema do mandatário, usam o fato como munição para ampliar espaço nas intenções de voto em outubro.

Quanto antes aceitarmos, melhor: qualquer empresa parcial ou totalmente detida pelo Estado será, de tempos em tempos, recrutada a agir em prol dos interesses do governo da vez (seja a defesa do interesse nacional, seja a sobrevivência no poder). Períodos de independência deveriam ser vistos como exceção e não regra. São fruto de momentos extraordinariamente propícios que, simplesmente, não se sustentam a longo prazo.

E é precisamente por isso que eu acredito que a política de preços da Petrobras, como executada hoje, está com os dias contados. Será sepultada. Se não pelo atual governo, pelo próximo – seja ele qual for.

Por óbvio, o mesmo raciocínio se aplica a qualquer outra empresa com participação estatal suficiente a ponto de produzir ingerência do governo da vez.

A tarifa de água está muito alta e a popularidade do governador está muito baixa? Vamos segurar reajustes. A conta de luz ficou muito cara? Vamos fazer um puxadinho para o setor elétrico – e o próximo governo que descasque esse abacaxi. Os juros estão muito altos? Vamos usar os bancos públicos para oferecer linhas de crédito mais baratas. Que tal uns investimentos bacanas para anunciar no meu curral eleitoral?

Isso tudo decorre de uma máxima: político vive de voto. Se o preço do voto for uma benesse hoje, a benesse ocorrerá. Se o custo da benesse for problemas mais à frente, depois a gente resolve – de repente, até, a bomba estoura no colo de outro partido e a gente pode colocar a culpa neles.

Don’t hate the player; hate the game.

Portanto… todo investidor que se propõe a ser sócio do Estado deveria ter em mente que, mais dia, menos dia, o governo da vez vai dar uma mordida. Das duas, uma: ou você fica totalmente de fora (minha regra), ou só participa da brincadeira mediante descontos substanciais (minha exceção).

Mas não se iluda: uma hora a conta vem.

Até a próxima.


*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. 

Twitter: @_rschweitzer, Instagram: @ricardoschweitzer

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