
Preocupações com as incertezas de curto prazo não se sobrepõem a teses estruturais. Por Ricardo Schweitzer*
Anunciaram e garantiram
que o mundo ia se acabar;
Por causa disso a minha gente
lá de casa começou a rezar…
Até disseram que o sol ia nascer
antes da madrugada:
Por causa disso nesta noite
lá no morro não se fez batucada…
Se você é como eu, que não sou grande fã de Carnaval, muito provavelmente teve suas atenções desses últimos dias voltadas ao noticiário do conflito russo-ucraniano. E se você gosta de Carnaval mas foi pra folia comprado em bolsa, muito provavelmente sua sina foi a mesma – e é absolutamente normal que assim seja.
A questão é muito simples: o cérebro humano não gosta de incerteza. Somos biologicamente programados para fugir de situações de risco – se assim não fosse, seus ancestrais muito provavelmente teriam sucumbido a algum animal selvagem ainda na idade da pedra lascada. Em alguma medida, todos carregamos certa dose de covardia nos nossos DNAs.
Para completar, nossa memória recente dos fatos da Guerra Fria e a lembrança de que Putin tem à sua disposição um dos maiores arsenais nucleares do planeta são a cereja do bolo. Não por fruto do acaso, minhas redes sociais foram coalhadas de questionamentos a respeito do que fazer em meio a essa barafunda toda.
Pois bem. Posso falar por mim: na semana passada eu não só não vendi absolutamente nada como, na verdade, aumentei minhas apostas em bolsa. E, na minha carteira de renda fixa, aproveitei o estresse extra nas taxas para reduzir a parcela de pós-fixados em favor de indexados: eu tenho para mim que, nas condições normais de temperatura e pressão, o Brasilzão velho de guerra é um país que paga 6% real. Em meio a tudo isso, estamos quase lá.
E vou além: o grande respiro que o dólar ofereceu nos últimos dias cria, a meu ver, uma oportunidade extremamente convidativa de ampliar sua fatia de investimentos no exterior. Quem avisa amigo é.
“Mas Ricardo, você não está preocupado?”
Estou. Mas tão grande quanto minha preocupação é minha consciência de que é justamente nesses momentos em que é preciso agir – e agir de uma forma que, para a maioria (eu inclusive), é completamente intuitiva.
O que o mundo dos investimentos pede da gente é que, encurralados em um penhasco por um leão, pulemos do penhasco. É assim mesmo.
E confie: assim como tudo mais, esse momento também vai passar. E, na hora em que passar, lá virá o Senhor Mercado, como de costume, separar o joio do trigo – e, então, os investimentos que não tiverem tantas razões concretas de ser para serem penalizados quanto outros serão, enfim, favorecidos – assim seja.
Da mesma forma que mar calmo não faz bom marinheiro, mercado de baixa volatilidade não faz bom investidor. E pior ainda: mercado que só sobe é ambiente profícuo à ingenuidade e ao excesso de confiança – e esses sim levam você à ruína; não o ímpeto de tomar risco quando todos à sua volta fogem.
Tenha isso em mente nesta quarta – que, ao que tudo indica, trará turbulências na abertura.
Até a próxima.
Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional.
Twitter: @_rschweitzer, Instagram: @ricardoschweitzer