
Aprenda de uma vez por todas: investimento não combina com impulso. Por Ricardo Schweitzer*
RÁPIDO! COMPRE MERP3 AGORA!
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Pergunto: você foi no home broker colocar ordem de compra – e descobriu que MERP3 não existe?
Pois é.
Imagine que, nesse instante, alguém batesse à sua porta e dissesse: rápido, me dê seu dinheiro pois acabei de encontrar uma oportunidade imperdível de ganhar uma fortuna. Você faz o quê? Entrega para o sujeito um saco com um cifrão ou, no mínimo, quer saber do que se trata?
Acho que nunca terei frisado o bastante o quanto acho importante que você se esforce em compreender o que está fazendo; ter clareza sobre quais são os objetivos, motivadores e riscos envolvidos em cada ideia de investimento. Já afirmei isto neste espaço, mas não custa enfatizar: por alguma razão que me foge à compreensão, o investidor médio dissocia o capital que investe do esforço que empreendeu para acumulá-lo, e passa a tratá-lo com uma displicência simplesmente inaceitável.
Certa vez publiquei uma recomendação e, pouco depois, veio alguém no Twitter me confidenciar: sem tempo de ler o relatório, o sujeito foi lá e seguiu a recomendação às cegas.
Fiquei absolutamente escandalizado. Anos depois, o escândalo passou – a gente se acostuma com a ideia –, mas a indignação persiste.
Nunca perca de vista o seguinte: o seu dinheiro é seu. Os bons e maus frutos das decisões que você tomar com ele caberão única e exclusivamente a você.
Em meus périplos pelo mundo do research independente, volta e meia me deparei com a seguinte questão fundamental: o que o assinante realmente quer saber? Muito simples: o que comprar, quando comprar, a que preço, quanto dinheiro colocar, quanto vai subir – com três casas decimais de precisão, no mínimo – e em quanto tempo, tudo sem margem de erro e, preferencialmente, expresso em menos de 140 caracteres. Se possível, já com um botão que, se pressionado, execute a recomendação automaticamente.
Moleza. Só faltou combinar com o mundo real – essa coisa chata que insiste em não ser do jeito que a nossa cabeça gostaria.
(Lembrete: deseje o impossível e, eventualmente, aparecerá alguém sem um pingo de escrúpulos oferecendo-o)
Meu primeiro impulso é jogar a culpa no pessoal da análise técnica: quando defendem que toda a informação está refletida nos preços – tese que, francamente, eu rejeito frontalmente –, os grafistas parecem oferecer um salvo conduto para que o sujeito não se preocupe com absolutamente mais nada.
Mas tenho que reconhecer que até assim estaria sendo injusto: há, pela parte de muitos dos defensores dos gráficos, um esforço genuíno em transmitir aos clientes a ideia de que aquilo não é uma ciência exata, mas sim um método que pretende, por repetição sistemática, obter resultados positivos.
Então não, a culpa não é dos grafistas. A culpa, talvez, recaia sobre a eterna tentação de delegarmos a terceiros a responsabilidade sobre decisões que são nossas: “se der certo, eu fiz; se der errado, você quem me mandou fazer isso.” Em outras palavras, um misto de infantilização e preguiça.
Ao agir assim, fazemos vista grossa para um fato que nos é inerentemente desconfortável: a realidade é muito mais complicada do que gostaríamos.
Minha primeira empreitada no ensino superior foi na Psicologia. Foram alguns semestres imerso em teorias sobre o comportamento humano… até concluir que aquele campo de estudo comportava teorias demasiado incongruentes. Queria algo menos incerto… e assim fui parar na Economia.
(Pausa para rir)
Tendo constatado que a ciência econômica também é uma conversa de loucos, busquei extra-muros um lugar onde as coisas fossem o que efetivamente são, e não reflexos imperfeitos de opiniões que mudam conforme a direção do vento. Foi com essa expectativa que caí no mercado financeiro.
(Pausa para chorar)
Então, enfim, aceitei: talvez as coisas simplesmente não funcionem da maneira cartesiana que, eu tanto gostaria em lugar algum. E, se as coisas são como são, nossas opções são aceitá-las e com elas aprender a conviver… ou viver em permanente auto-engano.
Eu escolhi aceitar. E hoje convido você também.
Nunca perca de vista: nenhum analista tem poderes mediúnicos. Ninguém é oráculo. Os métodos disponíveis, sejam eles aparentemente simples ou fascinantemente complexos – e, aceite, complexidade não significa eficácia -, não abarcam e nunca abarcarão todas as variáveis que contribuem para o resultado de uma recomendação de investimento.
Como consequência disso, você jamais – jamais – deve se sentir desobrigado de buscar um mínimo entendimento do que está fazendo. E se alguém der a entender que sua compreensão não é necessária, fique de olho se sua carteira permanece dentro do seu bolso.
Seja responsável. Insisto: seja responsável. Se isso implicar em “perder” oportunidades, então perca. Mas não aja por impulso: se você está canalizando seus instintos mais primitivos para seus investimentos, está errado.
*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional.
Twitter: @_rschweitzer, Instagram: @ricardoschweitzer