É sobre erros e acertos, não certezas | Por Ricardo Schweitzer

Artigo de Ricardo Schweitzer

Pequeno investidor custa a entender a dinâmica do investimento. Por Ricardo Schweitzer*

Algumas semanas atrás estava num evento social onde acabou se formando uma roda sobre investimentos. Os participantes eram todos profissionais de áreas diversas que, em paralelo, tinham alguns investimentos em bolsa.

Era um tal de all in pra lá, all in pra cá, certezas absolutas de que tal ação vai subir a tanto não sei quando, entremeadas com frustrações sobre ações que ficaram para trás na carteira (não subiram no mesmo ritmo que outras)… enfim, um caldeirão de fortes convicções com pitadas de ansiedade.

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  • Poucos dias atrás tomei café da manhã com um velho amigo de mercado, gestor profissional há bons anos, daqueles que têm um monte de cicatrizes de guerra para mostrar. 

    O tom da conversa não poderia ser mais diferente: discutimos especificidades de um punhado de teses de investimento, nas quais nem ele nem eu tínhamos mais de 10 por cento de nossos respectivos portfólios de ações. E a postura não poderia ser mais agnóstica: olha, isso aqui tem cara de que pode dar certo por isso, isso e aquilo. Se acontecer, vai fazer o portfólio ficar um pouquinho melhor do que a média do mercado; se não acontecer, também não arruína ninguém.

    Isso me fez refletir a respeito de diferenças fundamentais entre a forma típica de pensar de um investidor profissional e um amador – termo aqui usado sem qualquer conotação pejorativa, mas tão somente indicando quem não tem na gestão de investimentos sua principal atividade.

    O amador é cheio de certezas. Que, paradoxalmente, são baseadas principalmente em opiniões de terceiros e leituras superficiais da situação. Acredito muito em XPTO porque li o relatório de Fulano.

    O profissional conhece a opinião de Fulano, de Beltrano e de Sicrano. E também fez a própria lição de casa – não raro, conversando diretamente com a empresa. Por definição, conhece a tese mais a fundo do que o amador. Paradoxalmente, tem opiniões bem menos extremadas: entende que investir é, em grande medida, apostar em cenários futuros que podem ou não acontecer.

    O amador sempre está em busca da grande tacada. Alocar 50, 60, 70 por cento do patrimônio na próxima grande tese (eu ia escrever próxima Magalu, mas ultimamente a analogia perdeu objeto), que se traduz em um ou vai, ou racha explícito ou não.

    O profissional entende que investir é uma maratona, e não um sprint de 100 metros: se a tese porrar, vai contribuir de forma marginalmente positiva para o portfólio mas não mudará a vida; se der errado, não vai matar ninguém. 

    O amador espera sucesso de todas as teses nas quais investe e trata os insucessos como erros catastróficos.

    O profissional compreende que, por definição, não acertará todas; está mais preocupado em refinar o processo de investimento de forma que acerte mais do que erre e que os avanços trazidos pelos acertos sejam maiores do que os retrocessos trazidos pelos erros.

    O jogo do amador é do tipo ou tudo, ou nada. É strike ou canaleta. O jogo do profissional é de alocar risco, acumular pequenas vantagens ao longo do tempo e sempre continuar na mesa.

    Tenho repensado muito meus próprios processos de investimento, quase em crise de identidade. Ao compartilhar esse sentimento na roda dos amadores, recebi em troca um monte de conselhos: faz assim, faz assado, segue Fulano que é garantido.

    Ao dividir os mesmos dilemas com o amigo profissional, fui confortado: também me pergunto todas essas coisas todos os dias há muito tempo.

    Parece que estou, afinal, no caminho certo.


    Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. 

    Twitter: @_rschweitzer, Instagram: @ricardoschweitzer

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