
Investir é, antes de tudo, acreditar que o porvir será melhor. Por Ricardo Schweitzer*
A verdade é que a gente não foi feito para investir.
Somos todos produto de mecanismos evolutivos que primaram pela sobrevivência; pela satisfação imediata de nossas necessidades mais urgentes em um mundo de escassez e dificuldades.
Para nossos ancestrais de algumas dezenas de gerações atrás, a ideia de dispor de excedente, de poder simplesmente deixar para depois, era simplesmente inconcebível. E tenha a certeza: nossos cérebros não se adaptaram a essa mudança de paradigma.
E isso deveria servir de lembrança para todos nós de que, apesar das incontáveis e justificáveis queixas que temos a respeito do tempo presente, fato é que evoluímos.
Tome a referência que quiser: o mundo, o Brasil, o seu Estado, a sua cidade… talvez não tenhamos “chegado lá”, mas é altamente provável que estejamos, hoje, melhores do que décadas atrás.
E talvez isso se estenda, inclusive, à sua vida pessoal. A minha foi repleta de altos e baixos até aqui, mas não tenho a menor dúvida de que estou, hoje, muito melhor do que jamais imaginei.
Ênfase no final da frase: do que jamais imaginei.
O ofício de analista me acompanha desde que comecei a trabalhar. É o que sei fazer. E é o que gosto de fazer – e reunir esses dois atributos numa atividade só é um privilégio inenarrável.
Esse ofício me permitiu, ao longo do tempo, enxergar e entender duas coisas.
A primeira é consequência da afirmação com a qual abri este artigo: investir é diferir bem estar imediato em prol de chances de maior bem estar futuro. É algo que contraria completamente os mecanismos que garantiram nossa perpetuação como espécie.
E é, em alguma medida, uma declaração de generosidade e otimismo sem fim: em alguma medida, se você investe, você acredita que o futuro será melhor do que o presente.
Só que tem algo ainda mais incrível nisso tudo: quando revejo minhas projeções e premissas para as mais diversas empresas sobre as quais me debrucei ao longo desses 15 anos de ofício, na maioria das vezes constato que minhas expectativas estavam erradas – algumas mais, outras menos, mas via de regra erradas.
Ou seja: ao investir, a gente acredita no futuro mesmo errando (às vezes de longe) como o tal futuro será.
Essa constatação se reflete com muita força, também, na minha trajetória pessoal: eu já fui daquelas pessoas que planejava o futuro com horizontes de 1, 3, 5, 10 anos… e sempre quebrei a cara. As coisas nunca saíram como eu esperava.
O homem planeja e Deus ri, diz um ditado iídiche.
Mas sabe o mais formidável de tudo?
Mesmo nada saindo da maneira como eu esperava, quase tudo saiu bem.
E isso me fez desenvolver uma das minhas crenças mais centrais: provavelmente o futuro não será da maneira como eu vislumbro, mas eu acredito na minha capacidade de lidar com o porvir da melhor maneira possível; de fazer o melhor, e prosperar, com o que o destino me trouxer.
Transpondo isso novamente para os investimentos, o ato de investir se transmuta em uma declaração do mais genuíno otimismo em relação ao futuro: abro mão de bem estar imediato em prol da crença de que, venha o que vier, esses investimentos muito provavelmente me trarão maior bem estar no futuro.
Por essa ótica, é um ato de generosidade sem fim. E o fato é que, entre um percalço e outro aqui e acolá, de fato o universo tem retribuído esse voto de confiança.
Vejo muitos investidores preocupados em antever o que vai acontecer com as empresas nas quais investem no próximo trimestre ou no próximo ano. Eu já fui assim também.
E sim: o mercado, no curto prazo, é altamente sensível a essas coisas.
Mas tanto minha experiência pessoal quanto minha caminhada no ofício de analista me permitiram enxergar que, da mesma forma que o que me trouxe até aqui foi muito mais minha capacidade de lidar com porvires inesperados, as empresas que prosperaram não foram aquelas que tinham a visão mais acurada do futuro, mas sim a melhor capacidade de reação ao futuro imprevisto.
Em outras palavras: o maior peso veio de cultura, de capacidade de gestão. Na mesma medida que, na vida pessoal, a superação veio dos valores pessoais.
O que, aliás, faz bastante sentido quando lembramos de algo que, não raro, as planilhas nos fazem esquecer: empresas são feitas de gente.
Se tenho eu condições de dar algum conselho, ei-lo: foque mais em entender como a empresa funciona, como agem as pessoas-chave dela, e menos em adivinhar a margem do próximo trimestre.
Pois, em última instância, é na capacidade desses homens e mulheres que você está apostando quando investe; quando, em um ato da mais absoluta generosidade, abre mão de bem estar hoje em prol da chance de um bem estar vindouro ainda maior.
Na mesma medida que foi sempre surpreendente, o futuro sempre se mostrou imensamente generoso comigo. Sempre foi assim.
E continua sendo surpreendente. Cada vez mais.
Acredite no futuro.
Para Otto: minha maior aposta no futuro de todos os tempos
Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional.
Twitter: @_rschweitzer, Instagram: @ricardoschweitzer