O que você vai ver neste artigo:
Por Ernani Fagundes*
Houve um tempo não muito distante em que você visitava sua agência bancária e o gerente da sua conta sempre te oferecia um plano de previdência privada aberto.
Era aquela sopa de letrinhas, o Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL) que você pagava R$ 100 por mês e nunca se aposentava.
Hoje, o mesmo gerente ou corretor te oferece o VGBL por telefone, por mensagem ou no aplicativo pela internet.
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Pela lei, esse tipo de aplicação financeira é um investimento de longo prazo e até possui incentivos fiscais para quem escolhe a tabela regressiva do Imposto de Renda (IR) e fica aportado por mais de 10 anos.
Mas se você encontrar alguém que se aposentou com um VGBL, me avisa! Eu quero entrevistar essa pessoa. Eu não conheço ninguém!
E por essa ausência de beneficiados, vou te dar algumas informações sobre esse assunto!
Resgata de um lado, entra de outro
Segundo dados da Susep, a Superintendência de Seguros Privados do governo, de janeiro a julho de 2021, o resgate de VGBL superou R$ 50 bilhões. É muito dinheiro!
No ano passado, no mesmo período de comparação e em plena crise causada pela pandemia de covid-19, o resgate em VGBL estava na casa dos R$ 40 bilhões. Ou seja, também já era um volume alto de saques!
Se eu pedir uma entrevista para uma grande seguradora que vende VGBL, o porta-voz vai me responder que o setor está bem e com captação líquida. Sim, é verdade!
As grandes seguradoras vendem muito o VGBL, a arrecadação neste ano está acima dos R$ 60 bilhões. O setor como um todo possui mais de R$ 1 trilhão.
Em outras palavras, as pessoas compram muito VGBL, mas também resgatam muito! O patrimônio não gera o benefício de uma aposentadoria complementar pois a maioria dos aplicadores resgata antes do prazo.
Há algo estranho nisso! O setor aparentemente vai bem pois acumula R$ 1 trilhão em patrimônio, mas poderia ser muito maior, se os clientes não retirassem tantos recursos!
Comparação com fundos de pensão
Para simples efeito de comparação, o sistema de previdência complementar fechado (fundos de pensão) possui patrimônio semelhante (R$ 1,14 trilhão) e paga mais de R$ 70 bilhões de benefícios por ano.
Visto por outro ângulo, o sistema fechado é semelhante ao aberto em tamanho de patrimônio e gera retorno para pagar bilhões em aposentadores e pensões por ano.
Os chamados “fundos de pensão” atendem 2,77 milhões de participantes ativos (contribuintes) e possui 840 mil beneficiários (aposentados e pensionistas), segundo dados atualizados da Associação Brasileira das Entidades de Previdência Complementar Fechada (Abrapp).
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O que motiva os resgates do VGBL
O Blog do Grana apurou algumas razões que explicam esse aumento dos resgates em VGBL.
Veja abaixo alguns dos fatores:
- crise econômica atual
- falta de reserva de emergência do público de varejo
- comercialização inadequada por agências bancárias e corretores de seguros para o público de varejo
- produtos com rentabilidade baixa e taxas de administração elevadas para tíquetes menores
- pouca orientação previdenciária sobre necessidade de aposentadoria maior no futuro
O que explica o patrimônio de R$ 1 trilhão
Por outro ângulo, o Blog do Grana também apurou os motivos para esse setor de previdência complementar aberta acumular mais de R$ 1 trilhão em patrimônio líquido.
A maior parte desses recursos pertence ao público de alta renda e altíssima renda (private).
Conheça os motivos para esse público aplicar em VGBL:
- utilização do produto para planejamento sucessório com nomeação de beneficiários
- esse público consegue acumular para o longo prazo e aproveitar benefício fiscal da tabela regressiva
- taxas de administração menores para tíquetes maiores
- VGBL pode agregar, por escolha do aplicador, outros produtos como seguro de vida
- pagamento de pensão para beneficiários com prazo definido
- acumulação de recursos para educação dos filhos
VGBL vale a pena?
Após todas essas informações acima, já há elementos suficientes para responder a questão principal desse artigo, se o VGBL vale a pena, ou não? E se o VGBL cumpre o seu papel de ser um produto de previdência privada?
A resposta é não!
O VGBL pode até ser um bom produto financeiro para o horizonte de longo prazo, mas na prática, não serve como plano de aposentadoria de ninguém!
Quem tem dinheiro e consegue menores taxas de custeio e rentabilidade melhor, acaba utilizando o VGBL para outras finalidades:
- para planejamento sucessório de descendentes e outros beneficiários nomeados;
- para pagar a educação dos filhos na faculdade ou em programas de intercâmbio estudantil no exterior;
- para garantir a pensão por um determinado período para beneficiários nomeados;
- e por conveniência de escolher e agregar outros produtos de seguridade como seguro de vida na mesma seguradora.
Custo elevado para investidor de varejo
Já para o público de varejo que ainda não possui uma reserva de emergência adequada, o VGBL é um produto muito custoso por causa das taxas de administração elevadas que, inclusive, comprometem o retorno da aplicação.
Não é por acaso esse volume bilionário em resgates! Em geral, sem o devido planejamento, as pessoas resgatam o VGBL na primeira necessidade após rasparem o dinheiro da caderneta de poupança no banco.
Portanto, se você encontrar alguém que tenha se aposentado com o VGBL, me conta! Terei muito prazer em entrevistar esse beneficiário e saber se ele está feliz com seu rendimento complementar mensal.
(*) Ernani Fagundes é jornalista e editor do Blog do Grana. Em sua carreira, foi editor do feed de Investimentos do Broadcast/Agência Estado; editor de Finanças da revista IstoÉ Dinheiro e editor de Economia e Finanças do DCI.