Taxa Selic: Qual o custo da alta dos juros?
Taxa Selic: Qual o custo da alta dos juros? | Por Ernani Fagundes, jornalista especializado em mercado de capitais e informações econômicas e financeiras.
Nos últimos dias tenho recebido diversos relatórios de economistas do mercado apontando a possibilidade de uma alta da taxa básica de juros (Selic) como necessária para ancorar as expectativas de inflação no Brasil.
Atualmente, a Selic está em 10,50% ao ano. Se as previsões do mercado forem confirmadas, é provável que a Selic possa subir 0,25 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
A questão a ser respondida, é qual será o custo desse aumento dos juros para o Tesouro? Ou visto de outra forma, qual será o volume adicional de juros que será pago aos investidores da dívida pública.
Atualmente, de acordo com os dados da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), a dívida pública federal está na marca de R$ 7,14 trilhões, abaixo de 70% do Produto Interno Bruto (PIB).
Numa conta simples, um aumento de 0,25 ponto percentual nos juros representará um custo adicional de R$ 17,85 bilhões por ano ao Tesouro, ou seja ao contribuinte. Por outro ângulo, os investidores da dívida pública vão receber esse adicional de rendimento em suas aplicações financeiras atreladas à Selic ou DI (depósito interfinanceiro).
Vou deixar o exemplo mais claro no caso específico do Tesouro Selic. Do total da dívida, um percentual de 45%, ou R$ 3,2 trilhões está aplicado em Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), o popular Tesouro Selic. Nesse exemplo, uma alta de 0,25 ponto percentual na Selic representará um custo adicional de mais de R$ 8 bilhões ao contribuinte. Se a alta for de 0,50 ponto percentual, o custo duplica para R$ 16 bilhões.
Em números de varejo, se o investidor aplicou R$ 100,00 no Tesouro Selic, o valor bruto em juros aumentará uma moedinha de R$ 0,25 por R$ 100,00 de aplicação inicial, de juros de R$ 10,50 ao ano para R$ 10,75 ao ano, antes da cobrança do Imposto de Renda sobre os ganhos obtidos.
Mas essa moedinha de R$ 0,25 a cada R$ 100 investidos custa caro aos cofres do Tesouro. Não se iluda, a conta do aumento dos juros será paga todos os contribuintes. Nos últimos 12 meses até julho de 2024, o custo médio da nossa dívida ficou em 10,77%. O juro alto contribuiu para que a dívida saltasse R$ 1 trilhão no espaço de um ano, de R$ 6,14 trilhões para R$ 7,14 trilhões. O chamado “mercado” recebeu cerca de R$ 700 bilhões em juros e emprestou outros R$ 300 bilhões para o governo cobrir o déficit das contas públicas.
E com a alta contratada dos juros, nos próximos 12 meses, o “mercado” tende a receber mais de R$ 700 bilhões em juros da dívida pública.
Vale alertar que a alta dos juros também pode afetar investidores de renda variável (ações e fundos imobiliários) e desacelerar a forte expansão do PIB, a maior registrada desde 2013. O custo da desaceleração econômica ainda não está nas contas do mercado. Por outro lado, o investidor de Tesouro Selic ficará mais feliz com o ganho extra no Tesouro Direto.
Quem são os donos da dívida?
Se o contribuinte é quem paga a dívida, quem são os donos da dívida?
De acordo com os dados do Tesouro Nacional, os principais credores são as instituições financeiras. Os bancos possuem R$ 2,085 trilhões em depósitos em títulos públicos federais, sendo 54,4% desse volume aplicado em Selic.
Na segunda posição, os fundos de previdência possuem R$ 1,606 trilhão aplicado em títulos públicos federais, sendo 35,4% desse montante em Selic.
Na terceira posição, os fundos de investimento possuem R$ 1,495 trilhão de seus cotistas em títulos públicos federais, sendo 72,1% aplicado em taxa Selic.
Os investidores estrangeiros aparecem na quarta posição. Eles aplicaram R$ 670 bilhões na dívida pública brasileira com uma fatia de 15,5% em LFTs.
As seguradoras, que precisam guardar suas reservas financeiras, aportam R$ 263 bilhões em títulos da dívida, com um percentual de 29,9% em Selic.
Por fim, os 2,66 milhões de investidores pessoas físicas ativos que estão no Tesouro Direto aplicam o montante de R$ 145 bilhões em títulos públicos federais, um patrimônio médio de R$ 54,5 mil por CPF.
Do montante aplicado diretamente em títulos públicos por pessoas físicas, uma fatia de 36,6% está aportada em Tesouro Selic, a mesma LFT que acompanha a taxa básica de juros.
Independente de quantas moedinhas o investidor for receber com a alta dos juros básicos da economia, vale concluir que o Tesouro Selic continuará como um dos investimentos mais seguros e rentáveis para formar uma reserva de emergência ou reserva financeira.
Autor: Ernani Fagundes, jornalista especializado em mercado de capitais e informações econômicas e financeiras.
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