Tarifas, geopolítica e a pausa de 90 dias: a racionalidade estratégica por trás da medida de Trump | Artigo por Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

Tarifas, geopolítica e a pausa de 90 dias
O presidente Donald Trump anunciou uma pausa de 90 dias na imposição de novas tarifas para a maioria dos países parceiros dos Estados Unidos, com exceção da China, que permanece sujeita a alíquotas punitivas de até 125%.
Embora o gesto tenha sido inicialmente interpretado como um recuo, trata-se, na realidade, de uma inflexão tática, não estratégica.
Do ponto de vista econômico, a decisão visa a calibrar os efeitos de políticas protecionistas que, embora funcionem como instrumentos de barganha em negociações multilaterais, geram externalidades significativas quando aplicadas de forma generalizada e intempestiva.
A suspensão temporária, portanto, funciona como um buffer, um intervalo deliberado para absorção de choques, reorganização de fluxos comerciais e redução de incertezas nos mercados financeiros globais.
A reação positiva do mercado, refletida em uma valorização expressiva do índice S&P 500 (8% no acumulado da semana do anúncio), sinaliza que o gesto foi bem recebido não apenas por investidores institucionais, mas por setores produtivos que dependem de insumos e cadeias logísticas transnacionais.
A elasticidade da confiança empresarial em relação à previsibilidade comercial é um dado empírico com ampla literatura, e a medida parece buscar justamente esse efeito.
Contudo, a manutenção das tarifas elevadas sobre a China reforça a dimensão geopolítica da medida. Ao manter uma estrutura tarifária extremamente hostil a Pequim, Trump envia uma mensagem clara: o objetivo central não é apenas reequilibrar déficits comerciais, mas reposicionar os Estados Unidos como centro gravitacional das cadeias produtivas avançadas e, em especial, nos setores de tecnologia, semicondutores, defesa e manufatura de alto valor agregado.
É aqui que se evidencia a natureza estratégica da ação. Ao criar um duplo regime tarifário, concessivo com aliados, punitivo com a economia chinesa, a administração Trump tenta simultaneamente conter a ascensão tecnológica do país asiático e preservar sua base política doméstica, alicerçada em setores industriais que se sentem prejudicados pela globalização dos últimos 30 anos.
Por outro lado, os riscos de retaliação não são desprezíveis. A China reagiu com rapidez, elevando suas próprias tarifas sobre produtos norte-americanos e intensificando esforços diplomáticos para firmar alianças comerciais alternativas, notadamente com países do sudeste asiático e blocos como o BRICS+.
Além disso, levou o caso à Organização Mundial do Comércio, acionando os instrumentos legais disponíveis no sistema multilateral.
A União Europeia, por sua vez, optou por uma abordagem prudente: suspendeu a adoção de tarifas retaliatórias e indicou disposição para negociar dentro da janela de 90 dias.
Essa resposta evidencia que o gesto de Trump surtiu efeito ao menos no curto prazo, criando espaço para rearranjos bilaterais antes de uma escalada tarifária mais ampla.
Do ponto de vista da teoria econômica, a situação remete a um dilema clássico entre eficiência e soberania.
As tarifas, ainda que ineficientes sob o prisma do bem-estar social no longo prazo, podem ter efeitos distributivos de curto prazo que favorecem determinados grupos, sobretudo em contextos de desindustrialização ou transição tecnológica.
Trump parece operar sob essa lógica, tratando o comércio não como um jogo de soma positiva, mas como um campo de competição estratégica entre Estados-nação.
Essa pausa de 90 dias na imposição de tarifas representa menos um recuo e mais uma reorganização tática. Não é o fim de uma política, mas a suspensão momentânea de um conflito em curso.
A exclusão da China dessa pausa não é acidental: é o núcleo da estratégia.
Observo que os desdobramentos dessa política nos próximos meses servirão, na prática, para avaliar quais são os limites do protecionismo em uma economia global e interdependente.
A tensão entre autonomia econômica e cooperação internacional está, mais uma vez, no centro do debate.
Autor: Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
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Edição de texto e da página: Ernani Fagundes, jornalista especializado (MBA da B3) em informações econômicas, financeiras e de mercado de capitais.
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