O que esperar da Selic?
O que esperar da Selic? Artigo por Hudson Bessa, especialista em Mercado Financeiro da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
Nesta quarta-feira o COPOM anuncia a nova Taxa Selic a vigorar pelos próximos 45 dias. A princípio não haverá surpresa, a ampla maioria dos analistas e economistas aposta em um aumento de 0,5 p.p., o que elevará a taxa ao patamar de 14,75%.
Dados do relatório Focus indicam que as expectativas de inflação permanecem em torno de 5,5%, cerca de 1 p.p. acima do teto do intervalo da meta. Embora ruim, há três semanas que as expectativas refluem vagarosamente, o que pode ser considerado benigno quando se considera a forte deterioração de expectativas que vinha ocorrendo desde o final de 2024.
Observações
Alguns fatores vêm contribuindo para, até o momento, na suave melhora do quadro inflacionário brasileiro. No front externo, o anúncio do plano de tarifas recíprocas, conhecido como “Dia da Libertação”, teve o impacto de um choque elétrico na economia mundial. Os elevados aumentos para muitos países, em torno de 25%, e a insanidade das tarifas em torno de 245% aplicadas entre EUA e China, assustaram o mundo.
Investidores foram às vendas e liquidaram grande volume de títulos da dívida americana, fazendo a volatilidade dos mercados subir às alturas. A conjugação destes fatores, forçou o presidente Trump a recuar por 90 dias, com exceção para a China, e trouxe certo alívio ao mundo e uma desvalorização do Dólar.
O Brasil em especial, majorado com a alíquota mais baixa, de 10%, tem sido percebido como um país de oportunidades para assumir parte das exportações americanas de grãos, o que tem ajudado a impulsionar ainda mais o Real frente ao dólar.
A incerteza permanece, contudo, e qualquer notícia, fato ou boato, pode despertar a volatilidade. O bom momento externo, com a ajuda do câmbio, não tem sido suficiente para compensar as fragilidades locais.
O cenário brasileiro
A situação fiscal continua como uma espécie de calcanhar de Aquiles. A recente divulgação do orçamento de 2026 (PLDO) causou intranquilidade no mercado ao exibir a escassez de recursos orçamentários já no ano de 2027, o que ameaça, inclusive, paralisar a máquina pública. Apesar do mal-estar, a notícia não pôde ser vista como novidade, motivo pelo qual o mercado parece ter a absorvido sem grandes impactos.
Por outro lado, os dados recentemente divulgados apontam que, em relação ao ano anterior, a criação de empregos vem perdendo ímpeto, os gastos do governo caem moderadamente, o consumo das famílias esfria e a inflação começa a ceder levemente.
Em meio a este cenário com o externo em compasso de espera e os sinais domésticos que oscilam entre redução da demanda e fiscal deficitário, o COPOM deve reduzir o ritmo de aumento de 1 p.p. para 0,5 p.p.
Segundo o relatório Focus, este patamar de 14,75% deve persistir até o final do ano.
Autor: Hudson Bessa, especialista em Mercado Financeiro na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
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Edição visual da página: Ernani Fagundes, jornalista especializado (MBA da B3) em informações econômicas, financeiras e de mercado de capitais.
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