IPCA de junho 2024

IPCA de junho 2024: leitura benigna para além da surpresa baixista em alimentação | Notas por Alexandre Maluf, economista da XP.

Divulgado nesta manhã, o IPCA de junho subiu 0,21% m/m, abaixo do esperado (XP: 0,33%. Consenso: 0,30%). Na variação em doze meses, o índice de inflação subiu de 3,93% em maio para 4,23% em junho. Os alimentos foram os que mais surpreenderam para baixo, especialmente hortifrutis, como tubérculos, legumes e frutas. No geral, consideramos a leitura de junho como positiva para as perspectivas de inflação de curto prazo (ver detalhes abaixo).

Desaceleração mensal. O arrefecimento ante o IPCA de maio (0,46%) se deveu à deflação das passagens aéreas (-9,88%, ante 5,91%), já antecipadas pelo IPCA-15, e a alívios em ‘alimentação no domicílio’ (0,47% ante 0,66%). Dentro do último grupo, destacamos o arrefecimento das proteínas em geral, com ênfase para carnes, além dos alimentos in natura – grupo que apresentou forte e surpreendente deflação (-0,52% ante 0,99%) puxado principalmente por hortaliças e verduras, tubérculos raízes e legumes, frutas e ovo de galinha. Também merece destaque a desaceleração dos industrializados, puxada principalmente por vestuário (0,02% ante 0,50%), higiene pessoal (0,77% ante 1,04%) e automóvel novo (0,00% ante 0,54%).

O impacto das enchentes na região Sul. O IPCA do Rio Grande do Sul caiu 0,14% m/m em junho. A principal contribuição para a queda (-0,14pp) veio dos preços de “alimentação no domicílio”, especialmente dos alimentos in natura e das proteínas. Em geral, a recomposição dos preços dos alimentos foi muito mais forte do que o previsto, o que explica a diferença entre a nossa previsão para o grupo em âmbito nacional (0,99% m/m) e sua variação efetiva (0,47% m/m). Relativamente a outros preços livres, o grupo dos bens industrializados aumentou 0,06% m/m em junho, em comparação com -0,15% m/m em maio. Os preços dos serviços, por outro lado, caíram 0,26% m/m no mês passado, de um aumento de 0,43% m/m em maio. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Estatística), 30% da coleta de preços no Rio Grande do Sul foi efetuada através da Internet ou de chamadas telefônicas (de 65% em maio), e já se normalizou em julho.

Surpresa baixista nos núcleos de inflação, apesar de alguma aceleração na margem. A média dos núcleos de inflação subiu 0,23% m/m, abaixo da nossa previsão (0,30%). O SAAR 3M (média móvel dessazonalizada e anualizada de três meses) avançou de 3,2% para 3,5%, desviando-se da meta, como antecipou o IPCA-15 de junho. A principal contribuição para a aceleração veio dos preços industriais (novamente). Esperamos que o núcleo da inflação termine 2024 em 3,8%.

Moderação nos preços de serviços. O grupo de serviços subjacentes, que exclui passagens aéreas e itens voláteis, avançou 0,36% m/m, em linha com a nossa previsão (0,38%). O seu SAAR 3M caiu de 5,0% para 4,6%. Por fim, os serviços intensivos em mão de obra, outro indicador monitorizado de perto pelo Banco Central, recuaram para 5,4% (3M SAAR) de 5,9%, a quarta queda consecutiva. Apesar da moderação na margem, os indicadores de preços de serviços ainda estão muito acima da meta de 3%, e não prevemos alívio adicional nos próximos meses, dado o aumento dos salários e a deterioração das expectativas de inflação.

Os bens industrializados continuam a registar uma tendência ascendente, embora abaixo da nossa previsão. Os preços industriais avançaram 0,13% m/m, abaixo da nossa estimativa (exp. 0,22%), com os preços dos veículos novos explicando o desvio. Esperamos que os preços dos bens industrializados acelerem ao longo do 2S24, na esteira de uma taxa de câmbio mais depreciada e em linha com as recentes leituras mais altas em preços aos produtores (especificamente os IPAs da FGV).

Em suma, uma surpresa baixista no IPCA é sempre bem-vinda, como refletido na boa reação do mercado ao dado – tal IPCA pode reduzir a pressão sobre as expectativas de inflação para 2024, que têm aumentado no período recente. No entanto, como temos argumentado, o alívio na inflação de curto prazo não deve compensar a recente depreciação da taxa de câmbio e (mais importante) o aumento das expectativas de inflação para 2025 e 2026. De grande relevância, nossa previsão de 3,8% para o IPCA de 2024 tem viés de alta, dado o recente reajuste nos preços da gasolina e do gás de cozinha, cujo impacto estimado é de cerca de 0,2pp. Em breve divulgaremos uma nota com nossas projeções atualizadas para o IPCA de 2024. Por fim, nossa expectativa para o IPCA de 2025 permanece em 4,3%.

XP Inflação no detalhe: Elevamos projeção de IPCA para 4,0% em 2024, após reajustes de combustíveis

Na última segunda-feira (8/7), a Petrobras anunciou reajustes de 7% para a gasolina e 10% para o gás de cozinha nas distribuidoras. Mesmo após a alta nos preços, a Abicom – Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis – estima que os preços domésticos da gasolina estejam, em média, 9% defasados ante a paridade internacional, nível que consideramos confortável para a Petrobras. Como as premissas utilizadas pela Abicom – taxa de câmbio a R$ 5,43 e Brent a US$ 85,00 por barril – são semelhantes às do nosso cenário base, incorporamos as altas de preços como permanentes em nosso cenário de inflação para este ano.

Em detalhes, a alta da gasolina deverá impactar o IPCA em 0,17 pp., o GLP, em 0,04pp e, indiretamente, o etanol em 0,01 pp, com impacto total de 0,22 pp. Desse modo, nossa projeção para o IPCA de 2024 sai de 3,8% para 4,0%. Vale ressaltar que nosso cenário base incorpora quitação das contas covid e escassez hídrica nas tarifas de energia elétrica em setembro, com impacto baixista de 0,14pp. Para 2025, mantemos nossa projeção em 4,3%, em linha com o divulgado em nosso último relatório mensal.

Por fim, seguem as alterações em nossa projeção após os reajustes da Petrobras e da divulgação do IPCA de junho:

Julho: 0,36% (antes 0,13%);

Agosto: 0,13% (antes 0,01%)

Setembro: 0,08% (antes 0,08%)

2024: 4,0% (antes 3,8%).

Autor: Alexandre Maluf, economista da XP.

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