Como o Brasil pode navegar em meio à tempestade tarifária? | Artigo por Maurício Takahashi, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Alphaville.

Guerra Comercial: Como o Brasil pode navegar em meio à tempestade tarifária?
O mundo dos investimentos foi sacudido por uma reviravolta inesperada: a decisão dos Estados Unidos de impor tarifas sobre uma ampla gama de produtos.
Com alíquotas que chegaram a 145%, no caso da China, a iniciativa desencadeou uma reação em cadeia: Pequim respondeu à altura, aplicando tarifas de 125% sobre itens americanos e restringindo a exportação de minerais estratégicos. A União Europeia, por sua vez, sinalizou possíveis contramedidas. O resultado foi imediato: bolsas em queda, commodities derretendo, volatilidade disparando e o medo de uma recessão global ganhando corpo.
No meio desse furacão, investidores se perguntam: como se posicionar e quais cenários projetar, especialmente para o Brasil?
A guerra tarifária pode alterar o mapa do comércio global como um terremoto que muda as correntes marítimas. Caminhos antes consolidados se tornaram instáveis. O investidor precisa, agora, observar atentamente os sinais que vêm da economia internacional para traçar novas rotas locais e, quando aplicável, externas.
O crescimento global é o primeiro ponto de atenção. As tarifas funcionam como um freio brusco na atividade econômica, reduzindo o comércio, investimentos e consumo. Organismos como Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial já reviram suas projeções. Indicadores como os Project Management Institute (PMIs globais – que medem a compra de insumos do atacado) e os discursos de líderes como Jerome Powell, do Federal Reserve, deixam claro: o risco de uma recessão aumentou.
A inflação, por sua vez, segue um enredo mais complexo. O raciocínio é um pouco mais longo e ambíguo. De um lado, o enfraquecimento da economia mundial tende a aliviar as pressões inflacionárias, de outro, o aumento dos custos de importação, as disfunções logísticas e a desorganização das cadeias produtivas elevam os preços.
No Brasil, o câmbio pressionado e muito volátil, alimenta ainda mais o IPCA, colocando o Banco Central (BC) em um dilema. O Boletim Focus já antecipava um cenário difícil, mesmo antes da escalada tarifária, projetando Selic em 15% ao fim de 2025.
Os bancos centrais, tanto aqui quanto lá fora, estão encurralados. Dada a ambiguidade já citada, cortar juros pode estimular a economia, mas com inflação em alta, o espaço de manobra é limitado. Portanto, o investidor deve manter o radar ligado para as comunicações oficiais, como atas e discursos, além das curvas de juros futuras que ajudam a antecipar movimentos do mercado.
Outro setor importante é o de commodities. É vital para a economia brasileira. A menor expectativa de demanda global já fez despencar os preços de petróleo, minério de ferro e produtos agrícolas. A China, principal consumidor, reduz sua demanda. O Brasil, fortemente dependente desses mercados, pode sentir o baque.
Há ainda a pressão cambial. O dólar se fortaleceu globalmente como ativo de refúgio, e o real, como outras moedas emergentes, sofreu. O BC tem feito leilões de swap cambial para tentar conter a volatilidade, mas tudo depende do apetite por risco no cenário global.
Além disso, a reconfiguração do comércio internacional deve redirecionar fluxos de investimento e produção. Com incertezas em alta, IPOs e fusões tendem a estar congelados em diversos mercados. No Brasil, o temor é que produtos que perderam espaço nos EUA (como os asiáticos ou europeus) invadam o mercado local a preços muito competitivos, afetando a indústria nacional.
Apesar do clima tenso, há janelas de oportunidade.
A guerra comercial abriu margem, por exemplo, para o Brasil expandir suas exportações agrícolas à China, em especial soja e carnes. A médio e longo prazo, a realocação de cadeias produtivas globais pode beneficiar o país – mas isso depende de avanços no ambiente de negócios, infraestrutura e segurança jurídica. É mandatório que medidas populistas locais sejam deixadas de lado e o pragmatismo econômico-financeiro prevaleça nessa conjuntura.
Na construção de cenários, pelo menos três possibilidades podem ser construídas. O panorama otimista – hoje menos provável – considera uma trégua entre as potências, com redução parcial das tarifas e uma desaceleração global moderada, sem recessão profunda. No diametralmente oposto, o cenário pessimista projeta uma escalada tarifária ainda mais intensa, recessão global, estagflação em algumas economias e fuga em massa para ativos seguros – o que ampliaria a pressão de desvalorização sobre moedas emergentes, como o real.
Já o cenário mais plausível hoje é o intermediário: tarifas permanecem, a incerteza trava investimentos, o crescimento global perde força e os bancos centrais atuam com dificuldade para conter os impactos negativos. Para o Brasil, esse cenário significa inflação pressionada pelo câmbio, juros elevados e crescimento medíocre.
Nesse ambiente instável, a recomendação é clara: cautela.
A diversificação de portfólio – por classe de ativos e, quando possível, por geografia – nunca foi tão importante. A gestão de risco deve ser proativa, com revisões constantes de exposição e uso, quando adequado, de instrumentos de hedge. Mais do que nunca, é hora de focar nos fundamentos de longo prazo, avaliando a resiliência de empresas e setores. E, sobretudo, acompanhar de perto os movimentos da política econômica global.
A tempestade tarifária pode até parecer imprevisível e, em um primeiro momento, com sensação de “nada se pode fazer” ou mesmo “aguardar para até que as marés se acalmem”. Navegar por elas exige preparo técnico, visão de futuro, um leme firme nas mãos, ou seja, uma boa capacidade de diagnóstico, com testes de hipóteses frente às perguntas relevantes.
Autor: Maurício Takahashi, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Alphaville.
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Edição de texto e da página: Ernani Fagundes, jornalista especializado (MBA da B3) em informações econômicas, financeiras e de mercado de capitais.
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