Bets azaram crescimento da economia
As bets e cassinos virtuais arrastam o crescimento da economia para o ralo. É muito azar. | Artigo por Ernani Fagundes, jornalista especializado em informações econômicas e financeiras.

Os dados divulgados ontem (26/9) pelo Banco Central mostram que a economia brasileira está crescendo num ritmo de 3,2% ao ano. Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou que a taxa de desocupação caiu para 6,6% em agosto, o menor patamar desde 2015. A população ocupada alcançou 102,9 milhões de pessoas, um recorde.
Mas olhe ao seu redor. As empresas de varejo estão reclamando que o consumo está baixo. Os preços ao consumidor ficaram comportados em agosto (IPCA) e setembro (IPCA-15) mesmo com o ajuste da conta de luz e os efeitos da seca. O número de companhias em recuperação judicial é recorde.
Os bancos, por meio da Febraban, estão preocupados com o aumento do endividamento da população. O que está errado? Para onde está indo o bônus do crescimento da economia brasileira?
A resposta é clara e apareceu nas preocupações dos discursos recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no evento do Banco Safra realizado nessa semana.
O Brasil está enfrentando uma pandemia de jogos de azar. Sim, a palavra “pandemia” é mais adequada diante dos milhões de casos de vícios em apostas. Os dados oficiais mostram gastos de R$ 20 bilhões por mês em apostas esportivas (Bets) e em jogos de azar em cassinos virtuais. Numa conta simples, são R$240 bilhões por ano, ou 2,4% de um Produto Interno Bruto (PIB) na casa dos R$ 10 trilhões por ano. Em outras palavras, o crescimento da economia está indo para o ralo.
Os dados das contas externas mostram o tamanho desse ralo. Como boa parte das Bets e cassinos virtuais são de empresas estrangeiras, uma fatia considerável de recursos é desviada para o exterior. São bilhões de reais transformados em dólares que deixam o País. Não é por acaso que o Banco Central está preocupado com isso. A questão do aumento do endividamento para pagar apostas também preocupa a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Além da proibição do uso do cartão de crédito, a Febraban quer a limitação do uso do Pix para o pagamento às Bets e cassinos virtuais.
Sobre o impacto das Bets no varejo, tema já tratado aqui no Grana News em 21 de agosto, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) voltou a alertar o governo e pedir a pedir a proibição das casas de apostas, e de cassinos on line como o Jogo do Tigrinho.
Na questão social, a situação é ainda pior. Reportagem do UOL com dados do Banco Central mostrou que 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram mais de R$ 3 bilhões via Pix para apostas eletrônicas em 56 Bets.
Diante da realidade, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) criou hoje (27/9) um grupo de trabalho para discutir a restrição do uso de recursos do Bolsa Família para o pagamento de apostas, um claro desvirtuamento dos propósitos do programa de combate à fome. Na urgência da regulamentação das Bets, a proposta provavelmente será a de restrição de CPFs cadastrados no Bolsa Família.
Reportagem da Forbes Brasil com dados do Boletim Estatístico da Previdência Social também mostrou que 2 milhões de aposentados e pensionistas comprometeram a renda com apostas virtuais. Os dados do BC também revelaram, que entre os apostadores com mais de 60 anos, há pessoas que gastaram mais de R$ 3 mil em apostas em agosto, valor superior ao da média do valor das aposentadorias.
Por fim, vamos ao problema da falta de poupança e de investimentos que podem limitar o crescimento da economia para os próximos anos. O Grana News participou nessa semana no evento Incorpora 2024, e uma das principais queixas dos empresários do setor imobiliário é falta de recursos da caderneta de poupança para financiar (funding) novas obras da construção civil.
Não é coincidência essa situação, mesmo o País crescendo mais de 3%, uma parcela da população, mais de 24 milhões de pessoas, inclusive pessoas jovens, como registrou o relatório do Banco do Central, gastam em torno de R$ 100 em apostas eletrônicas. Parece óbvio, esse dinheiro não é aplicado nem na caderneta de poupança, muito menos em produtos financeiros mais rentáveis. Ou seja, as Bets e cassinos como Jogo do Tigrinho estão comprometendo a renda das famílias, conforme foi alertado por relatório do Santander em 28 de junho.
Para encerrar esse artigo, fica aqui a opinião de um jornalista de finanças: a “pandemia da Bets”, como definiu o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, precisa ser enfrentada com urgência, sob o risco de comprometer mortalmente a renda das famílias, a saúde mental de milhões de pessoas, e o crescimento da economia nos próximos anos.
Autor: Ernani Fagundes, jornalista especializado em informações de economia, finanças e mercado de capitais.
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